Será que seus filhos serão capazes de cuidar da herança que você deixará para eles? Sei que uma pergunta assim pode até causar impacto pela frieza com que eu a faço, principalmente em uma página em que o clima de discussões está muito mais para a ternura e o afeto. Por outro lado, de que servirá o esforço quevocê faz para construir um patrimônio se eles forem incapazes de administrar o que vocêacumulou. Eu defendo, portanto, que simplesmente juntar o dinheiro é menos efetivo do que ensinar a criançada a construir sua própria riqueza ou a tomar conta daquilo que receberem.
Uma pesquisa realizada pela Bovespa em 2004 mostrava que boa parte das mulheres tinha a intenção de poupar para o futuro, mas 83% delas queriam que seus filhos adquirissem também este hábito.
Se o fundamento para a resposta à pesquisa era a infalível “intuição feminina”, entendo que mais do que a intuição, a matemática e a multiplicação do dinheiro gerada pela capitalização dos juros em forma exponencial, são a prova “racional” de que começando mais cedo a juntar, será mais fácil,e até mesmo possível, tornar-se um milionário e, além disso ter vitalidade para usufruir o que acumulou.
Ao verificar em minha tese de doutorado que os bancos cobravam juros mais altos das pessoas físicas, percebi que uma das possíveis causas era a falta de educação financeira. A partir dai, passei a postar informações em meu diário na internet sobre o tema. Com base nas postagens e nas questões que me eram formuladas,escrevi o livro “O que as mulheres querem saber sobrefinanças pessoais”
Vamos começar, então, com a pessoa do espelho. Quero dizer: é mais fácil educar financeiramente os filhos se as mães assim o forem. Nesse sentido, reuni dentre aquelas que recebi, as 24 perguntas mais relevantes sobre seis temas de finanças pessoais que mais preocupavam as mulheres e as respondi.
Como as pesquisas também indicavam que a comunicação das instituições financeiras com o público feminino era ineficiente, meu foco principal foi escrever de uma maneira tão clara e didática que o conteúdo do livro pode ser absorvido integralmente.
Voltando à educação financeira dos filhos, sugiro deixar que eles ''sintam no bolso'', ou seja, decidam com base em suas preferências. Explico: quando você paga diretamente as contas, as crianças perdem a sensibilidade para duas coisas importantes: o valor relativo dos bens e serviços e a noção de restrição doorçamento.
O valor relativo nos ajuda tanto a saber o que é caro e barato para o nosso gosto, como a quantidade de sorvete que devo abrir mão para dar mais uma volta no brinquedo do parque de diversões.
A restrição orçamentária é aquela que nos mostra o quanto podemos fazer com o que temos Coisa muito rara hoje em dia.
A proposta, então, é, quando sair para passear, reserve um determinado valor (lembre-se de ser firme e não alterar a “restrição orçamentária”) e informe a eles o que há disponível para gastar. As escolhas e alocação ficarão por conta da turminha.
Este conselho é meio ''manjado'', mas nunca é demais lembrar: ensine-os a sempre separar um pouco do que ganham para fazer uma poupança. Este item é essencial para uma boa educação financeira dos seus filhos.
Humberto VeigaDoutor em economia e especialista em sistema financeiro, autor do livro “O que as mulheres querem saber sobre finanças pessoais” e do blog http://www.betoveiga.com/